Memórias da Pesca

O dia em que uma perda me colocou de frente com o futuro

Alexandre (Zeca) 3 de julho de 2025 30


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Em 2005, eu estava no auge da rotina insana. Virava noites trabalhando, me alimentando basicamente de pizza e Coca-Cola, como se o corpo fosse aguentar pra sempre. Foi nesse ritmo que atendi a ligação da minha mãe: meu pai tinha caído, quebrado o fêmur e estava no hospital. Ela disse apenas: “Venham para Manhuaçu”. Quando minha mãe falava com aquele tom, a gente sabia que era sério.

Na época, eu tocava a empresa com meu irmão, que estava em Curitiba atendendo a FIAT em um evento. Ele largou tudo e voltou. Quando cheguei ao hospital, entendi que a situação era mais grave do que imaginei. Foram 13 dias ao lado do meu pai, e nesses 13 dias, eu me desliguei completamente do trabalho — pela primeira vez em muitos anos.

Depois que ele se foi, tudo mudou. Veio o inventário, o silêncio, e aquele vazio que só quem perdeu um pai entende. Mas também veio uma clareza brutal: não dava mais pra viver só pro trabalho. Era hora de ressignificar.

Na mesma época, um vídeo levou o Grand Prix de Cyber em Cannes. A linguagem era nova, viva, impactante. O YouTube estava surgindo, e algo ali me chamou profundamente a atenção. “A internet vai ser mais assistida do que lida”, pensei. Eu vinha de um background de design, tecnologia e animação em Flash, e desde 1999 tocava minha própria agência digital. A transição para o vídeo fazia todo o sentido.

Aliás, desde 2004 eu já tinha fundado o Caterva, comunidade que virou ponto de encontro entre pescadores. E enquanto eu assistia ao videocast da VANS pelo iTunes — algo muito inovador na época — pensei: preciso ter meu próprio canal de podcast. Mas em 2005 isso era uma tarefa bem técnica. Era preciso editar o XML na unha, e só quem vinha de internet raiz sabia como fazer isso. Felizmente, eu sabia.

Foi então que nasceu a ideia do meu próprio projeto de conteúdo em vídeo. E como a linha que eu mais usava nas pescarias era a 30mm, resolvi batizar o canal com esse nome: 30mm. Criei a marca, comprei o computador, uma câmera MiniDV, muitas fitas e baterias, e montei minha própria ilha de edição.

Naquele mesmo ano, fui pescar no Tocantins. Entreguei a câmera nas mãos do guia e falei: “Filma tudo. Close na isca, no ataque, no arremesso… não se preocupe com a bateria nem com fita”. Foram dias intensos, muito peixe e muito material.

Na volta, sentei no computador e mergulhei no Premiere e After Effects. Horas e mais horas de tentativa e erro. Até que saiu meu primeiro vídeo. Subi no YouTube — e ele explodiu. Milhares de visualizações. Era só o começo.

No ano seguinte, voltei para Formoso do Araguaia. Estava jantando numa pizzaria quando o prefeito se levantou da mesa dele, veio até a minha e me agradeceu. Disse que, graças ao vídeo, a cidade tinha entrado no mapa da pesca esportiva do Brasil. Aquilo me marcou profundamente. Porque ali eu entendi: uma câmera na mão e uma boa história podem transformar realidades.

Ter apostado nesse formato me colocou à frente do tempo. No ano seguinte, receberíamos um convite da FIAT para criar um conteúdo 100% em vídeo para o lançamento de um novo carro, o Fiat Punto. Eles nos mostraram um projeto feito na Itália para o lançamento do Fiat 500 e pediram que apresentássemos algo semelhante.

Convidei um amigo, e viramos três noites seguidas — sexta, sábado e domingo — produzindo algo que pudesse ser mostrado na segunda-feira. Enviamos um DVD com o conteúdo: um vídeo revisitando a campanha do Fiat Idea com nova trilha e um novo tratamento de imagem. E adivinhem? O projeto foi aprovado.

Fomos para a Argentina lançar o Punto — e a partir dali, passamos 12 anos atendendo todo o grupo FIAT no Brasil e no exterior. Tudo isso começou com uma câmera, uma pescaria e uma vontade de contar histórias de um jeito novo.

E esse foi só o primeiro capítulo. Nos próximos posts, vou contar mais histórias por trás dos vídeos que registrei ao longo dos anos — e como cada um deles mudou um pouco minha vida.

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Alexandre (Zeca)

Pescador esportivo há mais de 20 anos, co-fundador do Fórum Caterva, da FBPE (Federação Brasileira de Pesca Esportiva), membro da Diretoria de Marketing da ANEPE.

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