A versão inicial era para ser publicada na "Revista da Caterva"... depois reescrevi para hospeda-la como a primeira matéria no meu site... não estou encontrando tempo e nem tenho as habilidades necessárias para isso...
Então a Caterva é quem vai ler em primeira mão....
Um parte da história das iscas artificiais.
Nasci e passei toda a minha vida em Araraquara, interior de SP, e, nas mais remotas lembranças de minha infância, a imagem do jacaré empalhado na entrada de uma loja é muito nítida. A loja a que me refiro é a Comercial Baldan, que desde 1950 está instalada na área central de Araraquara. A idéia de escrever esse texto surgiu conversando com amigo Marcio Baldan, em uma de minhas visitas semanais à sua loja.
Essa história começa bem antes, em 1926, quando vindo da Itália chegou ao Brasil, o jovem de 21 anos, Fortunato Baldan. Profissão: armeiro. Além de pouca bagagem, dinheiro suficiente apenas para uma penca de bananas que o alimentou durante a viagem do Porto de Santos até a cidade de Matão onde residiam outros familiares.
Como armeiro, sua habilidade em consertar e melhorar o desempenho de armas de fogo era conhecida por todos na região de Araraquara onde montou sua loja. Alguns anos mais tarde, ainda na década de 50, teve os primeiros contatos com as iscas artificiais que foram trazidas por um imigrante inglês chamado “Grosman”. Algumas iscas daquela época são guardadas com muito cuidado pelo Marcio.
Isca True Temper Shad... meia água com garatéia na lateral, simulando um peixe moribundo...
Detalhe da barbela incomum.
Visão geral da isca.
Iscas Pflueger
Detalhe da barbela
Heddon Vamp Spook
Aficionados por caça e pesca este exímio artesão, Fortunato Baldan e seu filho Mliner, baseando-se em iscas como as Pflueger, Heddon e True Temper iniciaram a produção de suas próprias iscas.
O modelo menor.
Detalhe da barbela onde era cunhada a marca. Cunhos como esse eram usados também nas armas e outros itens que Fortunato Baldan fazia ou concertava.
Um modelo um pouco maior.
Detalhe da fixação da barbela.
Os pitões também eram feitos por eles e, nesta foto é possível notar que também as garatéias eram feitas por eles soldando anzóis. Uma curiosidade são os acabamentos das buchas tipo “cup washes” usadas nas articulações e ponto de inserções dos pitões que foram feitos com partes de ilhoses.
O peixe alvo era o Dourado, e em algumas iscas é possível ver as marcas de dentes e pitões arrancados pela força dos grandes peixes.
Um outro modelo com 3 garatéias, sendo que duas eram fixadas lateralmente na parte anterior da isca.
Alem das iscas também foram construídas as ferramentas necessárias à sua confecção, inclusive o “aerógrafo” para a pintura.
De acordo com uma reportagem da extinta revista Troféu Pesca – ANO XXII nº 176, Antonio Faria, o “Mestre Faria”, só iniciou a produção de suas iscas em 1972, quando a importação desses itens foi proibida.
A produção das iscas articiais dos Baldan aconteceu em meados da década de 50... Durante a conversa com Marcio me dei conta de que provavelmente, eu estava diante, da primeira produção em série de iscas artificiais brasileiras!
Foram produzidas cerca de 2000 unidades, e boa parte delas vendidas para uma loja de Curitiba chamada “Az de Espadas”.
Na época, o sonho de Fortunato era comprar uma moto ou um carro com o lucro obtido na venda das iscas.
Hoje, restam ainda algumas dessas raridades sob a “custódia” do Marcio....
Além das iscas outros itens como carretilhas, varas e linhas são guardadas com o mesmo cuidado e carinho. Na ocasião destas fotos, tive a satisfação de ter nas mãos um Spin Cast fabricado por Fortunato... pesava nada menos do que 1100g....
Hoje é uma loja moderna que ocupa uma área de 320 m2, aos quais, em breve, serão somados mais 450m2. Com essa ampliação, Marcio tem planos de destinar um espaço para a montagem de um pequeno museu da pesca, onde esses itens ficarão em exposição.
Para mim, é um grande prazer ter conhecido esses “personagens” que escreveram um pequeno, mas importante capítulo na história da pesca esportiva e iscas artificiais no Brasil.
