Aos Novos Pescadores com Mosca

[Luiz Almeida]

Caros Companheiros

Dirijo-me a todos os pescadores mas especialmente a você que é jovem e que agora se inicia na arte da pesca com mosca, ou a você, já não tão jovem, pescador experiente, que está migrando de outras modalidades para a pesca com mosca.

Na verdade, é um breve relato de como ingressei na modalidade e de um filme que muito me influenciou e que gostaria de recomendar, embora talvez a maioria já o conheça.

Sou carioca, iniciei menino, como pescador de praia, depois vieram as competições (coisa da qual não tenho o menor orgulho, ao contrário) e a pesca de robalo com jigs de penas ( que até hoje pratico ) até que a vida levou-me a fazer pós-graduação nos EUA, onde, no próprio campus da Universidade, cortado por um riacho (Putah Creek), tive meu primeiro contato com o fly fishing. Fiquei encantado! Eu nunca tinha visto aquilo...Lembrem-se que isso foi há muitos anos, quando não havia Internet, as comunicações eram difíceis e nossa visão de mundo (a partir de um Brasil fechado e excluído) era mínima.

Foi uma paixão à primeira vista, mas, muito envolvido pelos estudos (eu tinha uma bolsa de uma fundação norte-americana que condicionava o pagamento mensal ao desempenho acadêmico) pouco pescava. Voltei ao Brasil, com um diploma de mestrado, uma assinatura da Field and Stream e um equipo de fly baratinho...Mas, chegando aqui, voltei a pescar robalos com jigs e iscas vivas e a pesca com mosca a fazia ( sem saber o que estava fazendo ) por brincadeira, em lagos de sítios de amigos ou pesque-pagues que iniciavam suas atividades no Brasil...

Passaram-se anos e numa viagem de trabalho aos EUA, já em 1992, fui ao cinema ver um filme recém-lançado: A River Runs Through It (que no Brasil, dois anos depois, seria exibido com o título de Nada é Para Sempre). Entrei no cinema quase por acaso, pois havia acabado de jantar num shopping, estava sozinho e ainda era cedo para voltar ao hotel e dormir.

Antes de continuar a narrativa, porém, quero pedir desculpas a todos que conhecem o filme e o que ele representa para a pesca com mosca, mas o objetivo aqui é o de chamar a atenção daqueles que não o conhecem e de quanto um livro, um filme...ou a arte...podem ser importantes em nossas vidas.

Como dizia, entrei num dos cinemas do shopping induzido pelo cartaz. Um jovem (Brad Pitt em seu primeiro filme como protagonista) lançava com um equipo de mosca e a assinatura da direção era de Robert Redford. Pensei: vai ser uma boa distração...Bem, nessa noite, assisti ao filme três vezes seguidas! No dia seguinte, outras três...Vendo esse filme (e, posteriormente lendo o livro em que se baseou) fui definitivamente fisgado pela pesca com mosca. Ao chegar no Brasil procurei saber quem pescava com mosca e com isso conheci o mestre Paulo Cézar - professor de tantos de nós - que, gentilmente dispos de tempo e paciência para tentar me ensinar a arte, mas o aluno aqui nunca passou (e até hoje não passa) de uma nota 6...No máximo, 7...Ao Paulo, meu agradecimento público...Sem desmerecer outros precursores, a pesca com mosca, no Brasil, deve muito a você!

Em 1994 o filme estréia no Brasil e, embora tenha conquistado o Oscar de melhor fotografia e seja uma obra de arte, com imenso sucesso nos EUA, ficou somente duas semanas em cartaz por aqui. É, na verdade, um filme americano, com valores culturais americanos e, a pesca com mosca, componente permanente das ações, algo desconhecido para nosso público. Foi um fracasso nos cinemas brasileiros. Pouca gente viu ou tomou conhecimento do filme. Algumas iniciativas, como a do programa de televisão do Rubinho, mostrava cenas do filme, fazendo chegar os melhores momentos aos nossos pescadores, principalmente àqueles pouco afeitos ao cinema. Logo depois o filme foi lançado em vídeocassete ( hoje existe em DVD) e o assisti inúmeras vezes, fazendo inclusive "cineminha em casa" convidando amigos e assim, tentando motivá-los para a pesca com mosca. Sei grande parte dos diálogos de cor e não me canso de rever toda beleza e poesia contida no filme que me fez optar pela pesca com mosca não só como método de pesca, mas como filosofia de vida. Uma vida mais calma, com poucas ambições materiais e profundo respeito pela Natureza, ditada no compasso dos movimentos com os quais lançamos uma mosca seca com bambú...

Inclusive, solicitado a postar uma resenha sobre o filme a ser colocada num site de vendas de livros e discos on line, escrevi:

A belíssima região de Missoula, no oeste de Montana, é pano de fundo desse delicado drama familiar e auto-biográfico, escrito por Norman Maclean e dirigido por Robert Redford, que tornou-se no maior clássico sobre flyfishing jamais produzido. Para sentir e compreender o filme em toda sua grandeza e beleza não é necessário ser um amante do flyfishing, caso do diretor Robert Redford, que foi fisgado na primeira linha do livro:"...Em nossa família não havia divisão entre religião e flyfishing..." Mas é preciso ter sensibilidade para ver que o mundo mal passa de um grão, comparado às dores e incertezas que povoam corações e mentes. E essa condição especial, mais povoa o espírito dos amantes da natureza. Sem dúvida, o filme é uma pintura de rara beleza, construída com pinceladas calmas e matizes que passam do suave ao agressivo sem meio-termo...de fato, como os grandes vinhos, uma obra para ser saboreada por poucos.

Assim, a vocês que nunca viram esse filme, sugiro que o façam...Talvez não tenham o mesmo sentimento que tive, pois isso é uma experiência individual...Mas certamente verão algo belo.

Abraços

Luiz

[Eric Carreras]

Belissimo texto, amigo.

Tenho um amigo aqui em Natal que começou a pescar de fly quando morou um tempo no Canadá.
Esse filme é fantastico. Tenho ele aqui em casa.
Quando comecei a pescar de fly, fui motivado por ele (o filme), por sua historia incrivel sobre a arte de se pescar de fly.
Parabens pela dissertação!

[Mario Eiras Filho]

Vi o filme quando ja era pescador pela TV a Cabo, não lembro o ano.

Madei vir o DVD dos EUA no Dia seguinte.

Não passo um ano sequer sem ve-lo novamente.

We are haunted by waters