MONOGRAFIA SOBRE O IMPACTO DE ESPÉCIES AQUÁTICAS INVASORAS

Um fórum especialmente criado para falar sobre o meio-ambiente. Um assunto as vezes chato, as vezes cansativo, mas que precisa ser abordado e a cada dia mais importante para a continuidade do nosso esporte.
Avatar do usuário
Alexandre Estanislau (Zeca)
GARATÉIA DE TITÂNIO
Mensagens: 8518
Registrado em: Qui Set 09, 2004 5:42 pm
Apelido: Zeca
Cidade: Belo Horizonte
Estado: MG
Instagram: http://instagram.com/alexbolt
Contato:

MONOGRAFIA SOBRE O IMPACTO DE ESPÉCIES AQUÁTICAS INVASORAS

Mensagem por Alexandre Estanislau (Zeca) » Seg Nov 24, 2008 2:42 pm

UMPA - Um P*** abraço

Alexandre Estanislau (Zeca)
LOJA CATERVA | PODCAST
/cat1
Avatar do usuário
jckruel
ANZOL DE PRATA
Mensagens: 352
Registrado em: Dom Mai 07, 2006 8:04 am
Apelido: jckruel
Cidade:

Espécies Invasoras...

Mensagem por jckruel » Ter Nov 25, 2008 10:07 am

Grande ZECA,

Obrigado por disponibilizar um material técnico de qualidade, ainda mais feito por nosso amigo Cota!

Diz ele:

"Do exposto, conclui-se que, somente após empresas brasileiras e o próprio governo terem experimentado prejuízos causados pelo entupimento de estações de tratamento de água e do acúmulo de conchas em turbinas de geração de energia de hidrelétricas, foram propostas as primeiras medidas direcionadas à caracterizar o problema das espécies invasoras como uma das prioridades para a conservação da biodiversidade brasileira".

Digo eu:

Nem as empresas do setor elétrico e nem os governos agem antecipando qualquer e previsível problema. Sempre é a mesma estória das ações só ocorrem após algum fato danoso. No caso, tais ações referem-se a uma estratégia de combate (?) ao mexilhão dourado, que realmente é grave pois nós mesmos poderemos, num futuro próximo, estarmos transportando os ditos, em nossos deslocamentos para as pescarias.

Sem querer enveredar para o ambientalismo romântico que tanto condeno, gostaria de perguntar por que não são feitos trabalhos, bem objetivos, com relação aos possíveis danos causados pela introdução dos tucunarés ou até dos black bass em nossos reservatórios. Qual, efetivamente, é a dimensão destes pretensos danos?

Sem querer também enveredar para os aspectos legais, sobre quem e porque introduziu tais espécies nos reservatórios (afinal isto é crime) não posso deixar de considerar uma imensa hipocrisia nos preocuparmos com tais introduções e pior, condenar o tucunaré (sem julgamento e sem direito ao contraditório -rs) uma vez que nas UHEs não existem mecanismos de transposição, os repovoamentos das espécies nativas estão ocorrendo apenas nos afluentes e em quantidades incipientes.

Então o responsável pela extinção das espécies nativas é o tucunaré? Não é a transformação do ambiente rio (lótico) para reservatório (lêntico)
a causa e consequência, a falta de reflorestamento nas áreas de preservação permanente do entôrno (que sequer existem) e por aí vai uma imensa lista de fatores que agem de forma sinérgica e potencial sobre os danos ocorridos, seguramente sem danos causados pelos tucunarés nestes fatos!

Como desconheço qualquer trabalho sério sobre tais danos, e muito menos algum que demonstre o que vem acontecendo (na realidade) entre as espécies invasoras e nativas nos nossos reservatórios, vou ficar torcendo para que apareçam não só os mexilhões dourados, mas os prateados, azuis, amarelos, vermelhos e todas as cores possíveis dado que desta froma, talvez um dia possamos ser escutados com relação à ictiofauna!

Agora (já saiu os editais) o governo vai estimular a aquicultura em 10.000 hectares de reservatórios (Itaipu no meio) de forma que como a tilápia é preferencial porque engorda rápido e tem mercado, o resto que se dane...Hipocrisia é o que mais vejo e minha descrença no poder público só aumenta!

Viva o tucunaré e viva o black bass!!!

abs

Kruel
Avatar do usuário
Alexandre Estanislau (Zeca)
GARATÉIA DE TITÂNIO
Mensagens: 8518
Registrado em: Qui Set 09, 2004 5:42 pm
Apelido: Zeca
Cidade: Belo Horizonte
Estado: MG
Instagram: http://instagram.com/alexbolt
Contato:

Mensagem por Alexandre Estanislau (Zeca) » Ter Nov 25, 2008 12:09 pm

Isso ai Kruel, meu sonho um dia é poder fazer uma reunião que envolva Ibama, Ief, cemig... etc... biologos contra os exoticos e outros a favor, pescadores, secretaria de turismo.. e discutir isto... acho que seria muito interessante.
UMPA - Um P*** abraço

Alexandre Estanislau (Zeca)
LOJA CATERVA | PODCAST
/cat1
Avatar do usuário
Luciano R. Cota
ANZOL DE PRATA
Mensagens: 467
Registrado em: Seg Mar 14, 2005 3:46 pm
Cidade:
Contato:

Mensagem por Luciano R. Cota » Ter Nov 25, 2008 1:17 pm

Kruel.

Vamos lá.
Estudos existem. A minha própria monografia de bacharelado tratou de estudar os impactos da introdução de tucunaré e piranha na cadeia trófica dos lagos do Parque Estadual do Rio Doce.

"O Brasil está entre os países que apresentam um dos maiores números de casos de introduções de espécies exóticas, principalmente entre as décadas de 60 e 70, com uma intensa translocação de espécies da bacia amazônica para ambientes aquáticos no nordeste e sudeste do país. Com o objetivo de incrementar a pesca esportiva, muitos dos lagos no trecho do Médio rio Doce sofreram introduções de tucunaré (Cichla cf. monoculus) e piranha (Pygocentrus nattereri), ambos originários da bacia amazônica (Godinho, 1994). Atualmente estas duas espécies ocorrem em vários lagos da região, muitas vezes em altas densidades provocando mudanças na estrutura das comunidades de peixes (Latini, 2001). No Lago D. Helvécio, o maior da região, metade das espécies nativas foi extinta desde que foi realizada a primeira captura destes predadores (Godinho e Formagio, 1992). As poucas espécies nativas que ainda restam no Lago D. Helvécio estão ameaçadas de extinção, como o acará (Geophagus brasiliensis; CICHLIDAE) e o piau (Leporinus steindachneri; ANOSTOMIDAE) (Latini, 2001)."

Estão aqui as referências de alguns:

Barbosa, F.A.R., Maia-Barbosa, P.M., Rocha,L., Marques, M.M. & Callisto, M., 1999. Human impacts and freshwater biodiversity in the Rio Doce, south-east Brazil: the watershed as a study unit. In: Proc. of the 8th Isternat. Symp. On Conservation and Management of Lakes: S7.C-1, ILEC, Copenhagen.

Godinho, A. L., 1994. The ecology of predator fish introductions: The case of Rio Doce Valley lakes. Ecology and human impact on lakes and reservoirs in Minas Gerais with special reference to future development and management strategies. Edited by Pinto-Coelho, R. M.; A. Giani & E. von Sperling – SEGRAC – Belo Horizonte (MG). 77-83 pp.

Godinho, A. L., Fomagio, P. S., 1992. Efeitos da introdução de Cichla ocellaris e Pygocentrus sp. sobre a comunidade de peixes da Lagoa Dom Helvécio, MG. Encontro Anual de Aquicultura de Minas Gerais, 10, p. 93-102.

Latini, A. O., 2001. O efeito da introdução de peixes exóticos nas populações nativas de lagoas do Parque Estadual do Rio Doce, MG. Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação de Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais para a obtenção do Título de Mestre em Ecologia.

O que acontece na maioria das vezes é que estes resultados não alcançam a comunidade extramuros da academia. E na maioria das vezes são conduzidos em áreas protegidas, como parques estaduais e federais, onde o apoio à pesquisa é maior.

Concordo com você que não podemos colocar a culpa somente no tucunaré. A transformação da dinâmica do rio também causa diminuição da diversidade da comunidade íctica, e até mesmo extinção. Mas a introdução de exóticos tem o mesmo efeito, e até mesmo de maior magnitude. Quem fala isso não sou eu, são anos de pesquisa no mundo inteiro. Se você quiser, tenho uma extensa bibliografia no assunto, relacionando ecólogos e biólogos de renome mundial, associações e institutos dos mais diversos. O que eu quero dizer é que não podemos partir do princípio do: se já está errado, que mal tem piorar um pouquinho, ou, se já formou o reservatório, vamos encher de tucunaré. São interferências distintas com seus respectivos impactos, os quais devem ser analisados separadamente. Os dois impactos ocorrendo sinergicamente são altamente degradantes.

Temos que partir do princípio de aprender com os nossos próprios erros e com os erros dos outros.

Um grande abraço!
Cota
"Eu não quero saber quem cortou a perna do Saci. Eu quero é o tênis!"
Avatar do usuário
jckruel
ANZOL DE PRATA
Mensagens: 352
Registrado em: Dom Mai 07, 2006 8:04 am
Apelido: jckruel
Cidade:

Mensagem por jckruel » Ter Nov 25, 2008 3:08 pm

Grande Cota,

ALELUIA!!!! SEJA MUITO BEM VINDO...

Não imaginas minha alegria quando no meu e-mail apareceu uma mensagem de notificação de resposta a tópico e vi que era você. Fizeste muita falta e tua ausência sempre é. deveras, sentida!

Temos uma enorme carência de profissionais do teu nível e eu, especialmente, sempre preciso de ajuda. Isso em função de minha confessa limitação científica e da minha dificuldade de "digerir" determinados artigos acadêmicos. Por que não fazem um resumo com uma linguagem que consiga chegar aos menos esclarecidos (rs).

Fica um pouco conosco, até que consigamos entender o que acontece de fato nos nossos reservatórios... Temos muitas dúvidas e tudo o que temos conseguido decorre de analogias, por falta de informações e de leituras mal digeridas em função de nossa formação limitada.

Vamos ao que dizes:

"Concordo com você que não podemos colocar a culpa somente no tucunaré. A transformação da dinâmica do rio também causa diminuição da diversidade da comunidade íctica, e até mesmo extinção. Mas a introdução de exóticos tem o mesmo efeito, e até mesmo de maior magnitude. Quem fala isso não sou eu, são anos de pesquisa no mundo inteiro.

Se você quiser, tenho uma extensa bibliografia no assunto, relacionando ecólogos e biólogos de renome mundial, associações e institutos dos mais diversos. O que eu quero dizer é que não podemos partir do princípio do: se já está errado, que mal tem piorar um pouquinho, ou, se já formou o reservatório, vamos encher de tucunaré. São interferências distintas com seus respectivos impactos, os quais devem ser analisados separadamente. Os dois impactos ocorrendo sinergicamente são altamente degradantes".

Temos que partir do princípio de aprender com os nossos próprios erros e com os erros dos outros.


Pois bem...Ninguém mais do que eu tenho defendido as espécies nativas contra a omissão e negligência com que são tratadas pelos entes públicos. Tudo é feito para a realização das obras das UHEs sem as medidas mitigadoras e compensatórias previstas na legislação.

Cansei...Minhas mãos já sangraram de tanto dar murros em ponta de faca! Queres ver como de pouco adianta nossos parcos esforços?

Analise o fato: o Tucunaré foi introduzido pelos próprios empreendedores (não só ele, pois no Rio Grande existem pelo menos 12 espécies exóticas/alóctenes que também forma introduzidas por alguém, em algum tempo) como forma/alternativa de ocupar o espaço formado pelos reservatórios, visando uma atividade comercial ou alternativa mais lógica de repovoamento.

Isso porque, desde aquela época se sabia que as espécies nativas iriam sofrer brutalmente com os barramentos e alteração do ambiente rio, podendo inclusive tender à extinção.

O que queremos saber é o seguinte: passados 30/40 anos dos barramentos os reservatórios (embora sofrendo com carreamento de nutrientes e esgotos) já se encontram estabilizados isto é, em muito se assemelham como se a natureza os tivesse criado.

Nestas condições, o que ocorreu com as espécies de peixes nativas ou as com introduzidas? Elas também se estabilizaram? Quais as que predominaram? Por que predominam e qual o dano disso? Estão conseguindo viver neste nicho ecológico modificado, de forma que a extinção de algumas não seja o destino final?

Ora, sabemos que o Tucunaré introduzido veio para ficar e não há mecanismos conhecidos que irá tirá-los dos lagos artificiais. Isso é bom ou é ruim? Sem a presença deles as espécies nativas teriam melhores condições de se adaptar ou os danos causados pelos barramentos também são irreversíveis?

Considere o dano adicional das portarias de ordenamento que incentivam a matança do tucunaré com redes ( os pescadores profissionais as estão usando em plena piracema). Ora, as redes de Minas são seletivas e pegam apenas o tucunaré ou estão causando enormes estragos na reprodução das espécies nativas?

Estas e muitas outras perguntas simples precisam de respostas e infelizmente a analogia com os trabalhos em rios, pouco esclarecem.

Estive com o Dirceu (Diretor da Estação de Hidrobiologia de Furnas) e minha conversa com ele foi esclarecedora, mas decepcionante. Diz ele que trabalhos nesta área são raros ou inexistentes. Não há respostas por ele conhecidas para estas perguntas...Você poderia ajudar e nos orientar onde poderemos achar alguma coisa?

Se tiveres, meu e-mail é jckruel@bol.com.br e me intersso por todo e qualquer trabalho com os assuntos discutidos aqui.

Aproveito para te agradecer (e muito) os sites que disponibilizaste na resposta anterior. Eles estão sendo muito úteis para mim, dado que estou realizando um trabalho voluntário, na tentativa de ajudar a viabilizar a implantação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Grande (depois eu conto).

um grande abraço, obrigado e fique concosco

abs

kruel
Avatar do usuário
Ilza Gonçalves
GARATÉIA DE BRONZE
Mensagens: 1141
Registrado em: Sáb Mai 31, 2008 4:07 pm
Cidade:

Mensagem por Ilza Gonçalves » Ter Dez 11, 2012 6:58 pm

:roll: :roll:
Interessante.
Que a qualidade e quantidade de estudos e debates sérios cresçam e nos sejam cada vez mais disponibilizados.
Seca?Reflorestar !
ImagemImagemImagem
Responder

Voltar para “- NOSSO MUNDO -”